No último dia 27/06, o curso de pós-graduação em Sociopsicologia da FESPSP promoveu o evento “Solidariedade e Escuta: A Luta pela Terra das Palavras”, onde também foi lançado o livro “Samud em tempos de genocídio”.
O evento organizado em parceria com o Coletivo Desorientalismos,trouxe a doutora Samah Jabr, que é presidente da Unidade de Saúde Mental do Ministério da Saúde da Palestina e a Zaynab Hinnawi, psicóloga clínica. A mediadora foi Ashjan Sadique Adi, professora da UFG.
A palestra contou com uma apresentação de Jabr em que apresentou os impactos sofridos pelos palestinos todos os dias com a ocupação israelense, desde antes dos eventos de 7 de outubro de 2023.
Um dos pontos levantados pela psiquiatra é que muitos dos termos descritos nos periódicos e livros sobre psicologia e psiquiatria ocidentais, não são suficientes para tratar a população palestina. Um dos pontos ressaltados por Jabr é que no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM da Associação Americana de Psiquiatria, descrevem trauma como:
‘Exposição à morte real ou ameaça de morte, ferimentos graves ou violência sexual em uma (ou mais) das seguintes formas: Vivenciar diretamente o(s) evento(s) traumático(s). Testemunhar, pessoalmente, o(s) evento(s) como ocorreu(ram) com outras pessoas. Saber que o(s) evento(s) traumático(s) ocorreu(ram) com um familiar ou amigo próximo.’
Trauma vindo de humilhações diárias sofridas pelo povo palestino, como as horas perdidas em pontos de controle, abusos policiais, demolição de casas palestinas e no caso dos prisioneiros palestinos em Israel, “ter que beijar a bandeira israelense para poder ir ao banheiro ou dançar ao som do hino de Israel” não são tipificadas como trauma pela psiquiatria estado-unidense e ocidental. Além disso, o aspecto geracional dos traumas, não são incluídos nessas análises. A noção de que gerações de famílias palestinas carregam traumas do passado, como a Nakba, não é apontado por autores ocidentais.
Outro aspecto interessante do estudo da psiquiatra é a noção de que o povo palestino não sofre com o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Esse termo faz sentido quando nos referimos a um soldado que volta de um teatro de guerra para sua casa, tendo voltado a um local onde aqueles traumas são revividos de forma psicológica, mas não real. A noção de “pós-traumático” não cabe ao povo palestino, pois esse sofre com os traumas de seus antepassados e o trauma do dia a dia. No caso de Gaza a situação é complexa devido aos bombardeios “a conta gotas” realizados pela ocupação israelense desde o bloqueio à Gaza iniciado em 2007.
Em um segundo momento tivemos a apresentação de Zaynab Hinnawi, que apresentou um texto de uma adolescente palestina, que ganhou o prêmio internacional Hans Christian Andersen – Fairytale Bay. A história escrita por Salha Hamadin, conta que quando os soldados israelenses começavam a treinar tiro perto de sua casa, ela montava em sua ovelha voadora Hantoush. Está levou Salha para conhecer Lionel Messi, onde os três jogaram futebol, a ponto do craque argentino chamar a jovem e sua ovelha para virem jogar no Barcelona. Salha recusa o generoso convite, pois ela precisa ordenhar suas ovelhas, seu pai está preso há 6 anos e com mais 19 anos de sentença a cumprir, não poderá fazê-lo. Messi, no entanto, promete que a copa de 2018 será realizada na vila da garota, onde será construído o maior estádio do mundo, o Hantoush Stadium. A história é de 2012.
Para ver mais sobre essa palestra entre no youtube da FESPSP, neste link.