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Dia dos Povos Indígenas!

Neste dia dos povos indígenas, convidamos a Profa. Dra. Caroline Cotta de Mello Freitas, antropóloga e docente da FESPSP, para explicar algumas questões de origem preconceituosa que frequentemente aparecem no debate público.

19/04/2023

 

Sobre estereótipos e racismo contra os povos indígenas 

Por Profª. Drª. Caroline Cotta de Mello Freitas

São Paulo, abril de 2023

 

Por que não se chama indígena de “índio”?

Essas palavras não são sinônimos! 

 

"Todos os índios no Brasil são indígenas, mas nem todos os indígenas que vivem no Brasil são índios". 

 

Os membros de povos e comunidades foram chamados de “índios” pelos portugueses que pensavam ter chegado à Índia. “Indígena”, por outro lado, é uma palavra muito antiga e significa “gerado dentro da terra que lhe é própria, originário da terra em que vive”.

 

FONTE: VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os Involuntários da Pátria (Reprodução de Aula pública realizada durante o ato Abril Indígena, Cinelândia, Rio de Janeiro 20/04/2016.) ARACÊ – Direitos Humanos em Revista. Ano 4, Número 5. Fevereiro 2017. (Disponível em 

https://arace.emnuvens.com.br/arace/article/download/140/75 )

 

Por que é errado criticar indígenas por utilizarem telefone ou outras tecnologias?

Como todas as sociedades humanas, as sociedades indígenas também se transformam!

 

Segundo o Censo IBGE 2010, os mais de 305 povos indígenas somam 896.917 pessoas. Destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais. 

 

Pessoas de origem indígena, vivam nas aldeias ou nas cidades, estão inseridas no mundo contemporâneo, portanto, têm acesso às distintas tecnologias de comunicação disponíveis e delas têm direito de fazer uso.

 

Por que morar na cidade não muda o fato de um indígena ser indígena?

A mestiçagem entre indígenas e pessoas brancas ocorre desde o período de colonização, muitas vezes por meio de violência, e foi usada como justificativa para a expulsão dos mesmos de suas terras!

O Estado estrategicamente estimulava o casamento entre homens brancos e mulheres indígenas. Assim, por terem supostamente se tornado uma população mestiça, os indígenas foram expulsos de suas terras, sendo obrigados a deixar suas aldeias. E apesar de terem se adaptado à vida nas cidades, isso não significa que abandonaram seus costumes e formas de pensar originárias.

 

Fonte: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. “Três peças de circunstância sobre direitos dos índios” in Cultura com aspas. São Paulo: Cosac & Naify, 2009. (Várias edições)

 

Quem “é índio e quem não é”?

O Estado Brasileiro e a Constituição de 1988 reconhecem o princípio de autodeclaração, isto é, a validade da autoidentificação.

 

Assim, a indigeneidade não é definida pelo lugar de moradia, pela vivência em aldeias ou costumes. Estes são estereótipos que reduzem as culturas indígenas a traços externos.

 

Fonte: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Cultura com aspas. São Paulo: Cosac & Naify, 2009. (Várias edições)

 

Por que devemos chamar de etnia e não tribo?

Uma etnia indígena pode ter muitas tribos. Supor uma homogeneidade entre as populações indígenas é mais um traço do racismo, que tende a perceber os “índios” como “todos iguais”.

 

Por que devemos chamar de aldeia e não tribo?

Uma tribo indígena pode ser organizada em muitas aldeias, que são unidades territoriais.

 

Sobre terras

Partindo da premissa de que os índios são os “proprietários históricos” destas terras, pois as ocupam desde antes da chegada dos conquistadores europeus ao que hoje chamamos Brasil, o Estado brasileiro reconhece, desde a Constituição de 1988, o direito dos povos indígenas a territórios. No entanto, este direito é sistematicamente questionado e posto em causa, em consequência de interesses como os das mineradoras e do agronegócio. Defender os direitos dos povos indígenas a terra é um ato de justiça e reparação histórica.

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