Evento aconteceu entre os dias 3 e 4 de maio
08/05/2023
Começou o Fórum Internacional - Os novos cenários para as empresas públicas de saneamento. Em dois dias, 03 e 04 de maio, autoridades e representantes do setor vão discutir os principais desafios para regulação dos serviços de saneamento, modelos de regionalização adotados pelos estados, participação privada no saneamento e as perspectivas do Governo Federal para o desenvolvimento do setor.
Na abertura, o coordenador geral do MBA Saneamento Ambiental da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Rafael Castilho, ressaltou a importância do desenvolvimento de projetos de Estado, eficientes e capazes de transformar a vida das pessoas. “Acredito que as transformações acontecem em momentos de ruídos, de discussão. Precisamos acabar com esse falso consenso de que o serviço público é ineficiente e de que o privado é eficiente. O setor público é um prolongamento da nossa vida social. Pensar em saneamento é pensar em avanço social e humano”, avaliou.
Na avaliação do coordenador geral do MBA PPP e Concessões da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Carlos Alexandre Nascimento, o evento é a oportunidade de reunir agentes importantes do setor para discutir uma agenda primordial para o seu desenvolvimento. “O nosso compromisso é que a universalização chegue a quem está excluído. Para isso, precisamos ter uma discussão técnica, com profissionais capacitados para as tomadas de decisão”.
Durante o evento, serão lançadas as novas turmas dos cursos de MBA PPP e Concessões e MBA Saneamento Ambiental, organizados pela FESPSP. Mais informações sobre os cursos estão disponíveis aqui.
Presente na solenidade de abertura, o presidente da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN), Roberto Sérgio Linhares, disse que é preciso construir saídas de união dos setores da sociedade em prol da universalização, meta estabelecida no Marco do Saneamento, em 2020, que determinava fornecer água para 99% da população e coleta e tratamento de esgoto para 90%, até 2033. “Se não tivermos a integração dos setores público e privado, não chegaremos a lugar nenhum. Isolados, não vamos conseguir alcançar essa meta”, disse.
Convidado para o evento, o deputado federal, Joseildo Ramos (PT-BA), afirmou que o setor enfrentou momentos difíceis nos últimos anos, principalmente após a Lei 14.026, que instituiu o novo Marco do Saneamento. “A legislação trouxe um ambiente restritivo para as empresas públicas e não havia nenhum impedimento para participação de empresas privadas. Os decretos sugeridos pelo governo federal tentam corrigir essa distorção”.
PAINEL 1 - Fortalecimento do Setor de Saneamento rumo à universalização
- Neuri Freitas, presidente da Aesbe e presidente da Cagece (Companhia de Água e Esgoto do Ceará)
- Leonardo Picciani, secretário Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades
- Alceu Guérios Bittencourt, presidente da Abes
- Francisco dos Santos Lopes, secretário executivo da Assemae
- Vinícius Benevides, presidente da Abar
- Liza Andrade, membro do Conselho de Orientação do ONDAS
- Elcires Pimenta Freire, coordenador Técnico do MBA Saneamento Ambiental da FESPSP
Fórum Internacional aponta para universalização do saneamento com recursos públicos e privados
Combinar investimentos público e privado pode ser a solução para universalizar serviços de saneamento até 2033, conforme previsto no Marco Regulatório do setor. O discurso a favor do investimento integrado uniu os palestrantes do primeiro painel do Fórum Internacional “Os Novos Cenários Para as Empresas Públicas de Saneamento”, realizado nesta quarta-feira (3/4) promovido pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e pela Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe). O tema Painel 1, o fortalecimento do setor de saneamento rumo à universalização, reuniu representantes das empresas públicas, da Academia, das agências reguladoras, do Terceiro Setor e do governo federal.
De acordo com o coordenador administrativo do MBA Saneamento Ambiental da FESPSP, Rafael Castilho, não há modelo único – exclusivamente público ou privado – para universalizar serviços de água e esgoto no país. O modelo federativo impede o Brasil de importar o modelo inglês de privatização dos serviços. “Temos um modelo de Estado diferente da Inglaterra. Aqui temos o papel dos municípios (titulares dos serviços de saneamento) e das empresas municipais, por exemplo”, disse Castilho.
O debate sobre o modelo de investimentos e a origem dos recursos, no entanto, transcende a prestação eficiente dos serviços públicos de saneamento. Contribui para assegurar dignidade às pessoas que ainda convivem com esgoto a céu aberto e com falta de água tratada e dessa forma cumpre o mais importante princípio constitucional. “A boa gestão desses serviços colabora muito para as instituições, para a democracia e para a prosperidade. O trabalho dos presidentes das companhias de saneamento colabora para algo muito maior”, afirmou.
O presidente da Aesbe, Neuri Freitas, também defendeu que a universalização passa por uma solução que una investimentos públicos e privados. “Não adianta privatizar empresas estatais e municipais. A solução passa por todos. É um desafio muito grande universalizar água e esgoto em uma década. O valor de R$ 90 bilhões investidos por ano é muito alto. Precisamos das companhias estaduais, municipais e das empresas privadas. Achar que só um segmento vai resolver não nos ajudará a atingir a meta de universalização”, disse Freitas.
De acordo com o secretário Nacional de Saneamento Ambiental, Leonardo Picciani, os decretos editados recentemente para regulamentar o Marco do Saneamento tiveram como foco as necessidades do cidadão sem saneamento. “Para o cidadão sem acesso a serviço de água, coleta e tratamento de esgoto, que está correndo risco por falta de investimentos em drenagem de águas pluviais e pela gestão imprópria de resíduos sólidos, não importa se o serviço prestado é público ou privado. O que importa é se o preço é justo e o serviço, adequado. É o acesso à prestação do serviço”, afirmou.
De acordo com o presidente nacional da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), Alceu Guérios Bittencourt, soluções simplistas desconsideram a complexidade do setor de saneamento, o mais complexo entre os setores da infraestrutura. “Além de construirmos regulação, precisamos fiscalizar os contratos e monitorar os resultados. No caso do prestador público, há a necessidade de assistência técnica porque nem sempre o titular do serviço tem a solução para o seu problema”, disse.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Agências Reguladoras (ABAR), Vinícius Benevides, experiências de outros países demonstram que o serviço pode ser prestado por prestadoras de diferentes naturezas. “Nesse cenário de escassez de recursos, é preciso estimular parcerias público-privadas (PPPs) e atrair investidores privados, para não sobrecarregar o orçamento público”, disse.
Para a representante do Observatório dos Direitos da Água (ONDAS), Liza Andrade, investimentos público e privado precisam interagir para permitir o chamado subsídio cruzado e o atendimento de determinadas comunidades do país, que não serão considerados atraentes para a iniciativa privada. A emergência climática exige medidas estratégicas, mas também urgentes. “Água e saneamento são direitos humanos. Por isso precisamos, além das PPPs, de parcerias público-comunitárias (PPC), para descentralizar os investimentos, dar voz à população indígena e respeitar os direitos trabalhadores nos espaços públicos”, afirmou a representante do Terceiro Setor.
Para o coordenador técnico do MBA Saneamento Ambiental da FESPSP, Elcires Pimenta, o saneamento básico precisa passar a ser visto como uma política de Estado. O saneamento é estratégico para o país, de acordo com o professor, e tem potencial para se tornar o motor do desenvolvimento social brasileiro, na medida em que alavanca o desenvolvimento econômico nesse momento do país. “Cada real investido significa geração de emprego, crescimento local, desenvolvimento de minorias e muito mais. O saneamento precisa ser o objeto de um novo ciclo da história da economia brasileira, como foram os ciclos do açúcar, do café etc. Talvez seja momento de fazer dos investimentos em saneamento básico a mola mestra desse crescimento econômico brasileiro. É preciso pensar grande”, afirmou.
PAINEL 2 - Desafios sociais no setor de saneamento
- Pascale Hoffman, professora da University College London (UCL)
- Luiz Roberto Gravina Pladevall, presidente da Abes-SP
- Elcires Pimenta, coordenador Técnico do MBA Saneamento Ambiental da FESPSP
O saneamento como ferramenta social
O segundo painel do Fórum Internacional – Os novos cenários para as empresas públicas de saneamento discutiu os desafios enfrentados pelo setor de saneamento na área social, com o desenvolvimento de projetos sustentáveis e resilientes. O evento, realizado pela Aesbe e pela FESPSP, segue até quarta-feira (04.05).
Convidada do evento, a professora associada da UCL, Pascale Hofmann, participou por meio de videoconferência direto da Tanzânia, na África. Em sua apresentação, Hofmann destacou a importância do saneamento para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas. “Metade dos ODS precisam de investimento em saneamento para que sejam atendidos. Também identificamos sinergia entre saneamento e 430 metas da Agenda 2030 e de compensações entre áreas que nos demandam atenção particular”, frisou.
A professora faz parte de um projeto da UCL com um município da África do Sul. O modelo adota serviços diferentes de acordo com as características da população, seguindo critérios de renda, raça e gênero do chefe da família. Segundo ela, isso tende a atender melhor os beneficiados. “É importante considerar a diversidade quanto a necessidades e capacidade das pessoas. Soluções não customizadas não atenderão a todos”.
Para solucionar entraves do setor de saneamento com o desenvolvimento sustentável, a professora propõe algumas soluções, como o envolvimento dos beneficiários, em especial quando se trata de comunidades em favelas, limpeza e resiliência das estruturas, entre outras. “Envolver usuários em decisões sobre acesso a saneamento pode ajudar a alinhar os serviços”, considera.
Para o coordenador técnico do MBA Saneamento Ambiental da FESPSP, Elcires Pimenta, além das questões levantadas pela professora Pascale Hofmann, o maior desafio do setor é o saneamento rural. Segundo ele, cerca de 30 milhões de pessoas residem na zona rural, onde a prestação de serviços de saneamento se torna ainda mais difícil. “É preciso pensar o saneamento como política de estado. Qual a estratégia do saneamento para todos? Qual a responsabilidade de cada ente no saneamento rural? Qual o papel do saneamento nas questões climáticas e ambientais? Qual a prioridade dos investimentos para garantir a sustentabilidade econômica?”, indagou.
Na avaliação do presidente da Abes-SP, Luiz Roberto Gravina Pladevall, planejamento é o segredo para construir um projeto bem-sucedido, que atenda a população de baixa renda com profissionais de perfil técnico. “Temos que ser criativos e trabalhar em soluções alternativas viáveis, trazendo a universidade, com pesquisas e dados consistentes”.
PAINEL 3 - Modelos de Regionalização adotados pelos Estados para a prestação dos serviços de saneamento
- José Ribamar Santana, presidente da Agespisa (PI)
- Marcus Vinícius Fernandes Neves, ex-presidente da Aesbe e presidente da Cagepa (PB)
- Leonardo Góes Silva, presidente da Embasa (BA)
- Francesca Mariutti, advogada do Escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados
- Fernando Vernalha, advogado e consultor de Direito Público
A regionalização é o melhor caminho para o saneamento
O terceiro e último painel do dia do Fórum Internacional - Os novos cenários para as empresas públicas de saneamento tratou de modelos adotados por estados para implantação de projetos de infraestrutura na área de saneamento. Organizado pela Aesbe e pela FESPSP, o evento segue até quarta-feira (04.05), em Brasília.
Convidado para dar o seu relato sobre a Paraíba, o presidente da Cagepa, Marcus Vinícius Fernandes Neves, afirmou que o estado adotou a regionalização do saneamento num processo demorado e que envolveu várias fases. “As microrregiões atendem a integralidade dos municípios. A regionalização não foi feita para atender a companhia, mas sim os municípios”, disse.
Já no Piauí, o processo de regionalização foi atualizado em 2022 e, das 11 microrregiões criadas anteriormente, ficou apenas uma. Conforme o relato do presidente da Agespisa, José Ribamar Santana, o redesenho partiu de um estudo contratado pelo governo para aperfeiçoar a governança dos contratos entre as companhias e os entes federados. “É o caminho correto para alcançar a universalização e prestar um serviço de qualidade para a população”.
Na Bahia, segundo o presidente da Embasa, Leonardo Góes Silva, o processo de regionalização foi iniciado em 2019, antes mesmo do Marco do Saneamento. “A Bahia saiu na frente e hoje atendemos 366 dos 417 municípios baianos, com 19 microrregiões definidas”, disse. Ele ressaltou, ainda, a importância da FESPSP para estruturação do processo de regionalização e implantação das microrregiões no estado da Bahia.
Na avaliação do advogado e consultor de Direito Público, Fernando Vernalha, o maior desafio está na prestação regionalizada dos serviços devido à falta de padrão na vigência dos contratos ativos de saneamento. “Não vamos conseguir universalizar sem regionalizar”. Vernalha sugere, ainda, a implantação do subsídio cruzado, quando um estado ou município superavitário passa a cobrir os entes deficitários. “A criação de fundos pode assegurar as condições para que municípios com dificuldades financeiras possam atuar”.
O evento
Promovido pela Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe) e pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), o Fórum tem o objetivo de integrar o setor de saneamento nacional e internacional, com foco na universalização do saneamento. O evento é realizado em Brasília, entre hoje e amanhã (04.05).
Informações e fotos: Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe)